quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Meu artigo da Pós

A VERDADEIRA FACE DA PSICOPEDAGOGIA

A VERDADEIRA FACE DA PSICOPEDAGOGIA


Rozângela Santos1

Especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional


Orientadora Profª MSc.Patrícia Mara Medeiros2


RESUMO


A grande expansão dos cursos de formação e especialização em Psicopedagogia é sinal do reconhecimento deste profissional. Desde a década de 70 esta formação vem ocorrendo em caráter regular e oficial, em instituições universitárias. Esta formação foi regulamentada pelo MEC em cursos de pós-graduação e especialização. Isso demonstra que mais uma vez há importância da legalização do Psicopedagogo como profissão é fundamental, para fortalecer e dinamizar as áreas de saúde e educação; colocando-se a favor do desenvolvimento do nosso país na forma de efetivos contribuidores. Desse modo, conhecer formas de atuação e a legislação que embasa a prática psicopedagógica é necessário ao profissional da área. Assim sendo, este artigo aborda a legalização do curso de Psicopedagogia no contexto geral focando a formação do Psicopedagogo e explicitando a relevância da formação desses profissionais enquanto agente de educação e saúde; conhecendo seu Código de Ética e Legislação que amparam essa área de atuação. Portanto, a regulamentação da profissão, contribui para a percepção global do fator educativo, para a compreensão satisfatória dos objetivos da Educação e da finalidade da escola, possibilitando uma ação transformadora.


PALAVRAS-CHAVE: Atuação. Formação. Legalização. Psicopedagogia.



THE TRUE FACE OF THE EDUCATIONAL PSYCHOLOGY


ABSTRACT


The vast expansion of training courses and specialization in Psychopedagogy is a sign of recognition of this work. Since the 1970s this training has taken place in regular official character and in universities. This training was regulated by MEC in post-graduate courses and specialization. This demonstrates that once again there is importance of legalization of Psicopedagogo as a profession is essential to strengthen and streamline the areas of health and education; putting itself in favour of the development of our country in the form of effective contributors. thus known forms of activity and legislation that embasa psicopedagógica practice is required for the professional area. Thus, this article discusses the legalisation of Psychopedagogy in the general context about the formation of Psicopedagogo and highlighting the relevance of the training of professionals as an agent of education and health; knowing its code of ethics and legislation that amparam this area of expertise. Therefore, the regulation of the profession psicopedagogo, contributes to the overall perception of fact educational, to satisfactory understanding of education objectives and purpose of the school, enabling a processing action.


KEYWORDS: Psichopedagogy.Legalization.formation.Performance

1 INTRODUÇÃO



A Psicopedagogia é um campo de conhecimento e atuação em Saúde e Educação, enquanto prática clínica tem-se transformado em campo de estudos para investigadores interessados no processo de construção do conhecimento e nas dificuldades que se apresentam nessa construção. Como prática preventiva, busca construir uma relação saudável com o conhecimento, de modo a facilitar a sua construção.O objeto central de estudo da psicopedagogia está estruturado em torno do processo de aprendizagem humana: seus padrões evolutivos normais e patológicos e a influência do meio (família, escola, sociedade) em seu desenvolvimento. Enfim, a Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana, que adveio de uma demanda, o problema de aprendizagem.

Como se preocupa com o problema de aprendizagem, deve ocupar-se inicialmente do processo de aprendizagem, estudando assim as características da aprendizagem humana.

É necessário comentar que a Psicopedagogia é comumente conhecida como aquela que atende crianças com dificuldades de aprendizagem. É notório o fato de que as dificuldades, distúrbios ou patologias podem aparecer em qualquer momento da vida e, portanto, a Psicopedagogia não faz distinção de idade ou sexo para o atendimento.

Devido ao crescente número de profissionais nessa área, necessário se faz que se esclareça objetivamente qual é o papel e a área de atuação do Psicopedagogo, qual a importância da Psicopedagogia na atualidade e o que é Psicopedagogia; assim como, levar ao conhecimento de todas as leis e normas que asseguram o ingresso na mesma, uma vez que, muitos cursos deixam os cursistas alheios a esses conhecimentos que são de extrema importância para todos aqueles que enveredam nessa profissão; esclarecendo de forma objetiva, o que é Psicopedagogia, sua área de atuação, e as leis que a norteiam na sociedade contemporânea além de levar ao conhecimento de todo qual é o papel do psicopedagogo e como se dá a formação desse profissional utilizando, como metodologia, a pesquisa bibliográfica, para análise dos dados o método qualitativo e como tipo de pesquisa a descritiva, para que se possa conhecer a verdadeira face da Psicopedagogia.



2. A PSICOPEDAGOGIA

2.1 Uma rápida viagem à história da Psicopedagogia



A Psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor compreensão do processo de aprendizagem, ou seja, contribuir na busca de soluções para a difícil questão do problema de aprendizagem.

No Brasil ela surge com a influência da Argentina, devido à proximidade geográfica e a presença de psicopedagogos argentinos ministrando cursos e desenvolvendo atividades no nosso país.

Os primeiros cursos e experiências psicopedagógicas surgem por volta de 1970 e na década de 80 é criada a Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp). O desafio da Psicopedagogia no Brasil é ver concluído o processo de regulamentação da profissão e ampliar seu espaço de atendimento.

O Brasil recebeu contribuições, para o desenvolvimento da área psicopedagógica, de profissionais argentinos tais como: Sara Paín, Jacob Feldmann, Ana Maria Muniz, Jorge Visca dentre outros. Temos o professor argentino Jorge Visca como um dos maiores contribuintes da difusão psicopedagógica no Brasil

De acordo com Visca, a Psicopedagogia foi inicialmente uma ação subsidiada da Medicina e da Psicologia, perfilando-se posteriormente como um conhecimento independente e complementar, possuída de um objeto de estudo, denominado de processo de aprendizagem, e de recursos diagnósticos, corretores e preventivos próprios (VISCA apud BOSSA, 2000, p. 21).

Visca (1987) foi um dos primeiros psicopedagogos que se preocupou com a epistemologia da psicopedagogia e propôs estudos baseados no que se chamou de epistemologia convergente, resultado da assimilação recíproca de conhecimentos fundamentados no construtivismo, estruturalismo construtivista e no interacionalismo. Essas contribuições influenciaram a psicopedagogia brasileira, mas diferenciam-se dependendo da região.

Foi ele que implantou os CEPs (Centros de Estudos Psicopedagógicos) no Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Salvador, e Curitiba. Ministrou aulas também em Salvador, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Itajaí, Joinville, Maringá, Goiânia, Foz do Iguaçu e muitas outras. (BARBOSA, 2002)

Muitos outros cursos de Psicopedagogia foram surgindo ao longo deste período até os dias atuais e este crescimento não pára de acontecer o que indica uma grande procura por esta profissão. Entretanto, é importante ressaltar, que esta demanda pode proliferar cursos precários distribuindo diplomas e certificados a profissionais inadequados.

Existe, em nosso país a Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) que dá um norte a esta profissão. Ela é responsável pela organização de eventos, pela publicação de temas relacionados à Psicopedagogia, cadastro dos profissionais



2.2 Objetivos



A Psicopedagogia tem por objeto de estudo a aprendizagem como um processo individual, em que a trajetória da construção do conhecimento é valorizada e entendida como parte do resultado final. Vivemos na era do conhecimento. Não se pode pensar no exercício da cidadania sem que o cidadão tenha acesso à formação acadêmica mínima de nove anos, mas, na prática, a sociedade demonstra que a exigência real de um segundo grau e, de preferência, com um pós-médio.

Temos visto que para exercer qualquer profissão, seja ela a mais simples ou a mais complexa, a pessoa será submetida a treinamentos que devem passar, não apenas por especificidade da função e do local de trabalho, mas por treinamentos de ética, qualidade, perfil de cliente, economia, etc. A pessoa é valorizada por seus diplomas, mas também por sua capacidade de construir conhecimento, de gerar instrumentos e serviços adequados ao contexto sócio-econômico-cultural.

Estamos vivendo em plena era de globalização, em que o conhecimento e as descobertas científicas circulam com uma incontrolável rapidez e as próprias instituições de ensino têm dificuldade em acompanhar o fluxo dessas informações. É extremamente fácil acontecer um avanço científico em determinada área do conhecimento sem que o profissional especializado saiba, ou ainda, é possível que outra pessoa, de outra área do conhecimento venha, a saber, dessas descobertas antes do especialista.

Ao mesmo tempo em que o conhecimento circula com facilidade por todos os lados, é necessário saber como encontrá-lo, ter acesso à tecnologia adequada e às fontes de informações seguras do conhecimento.

Diante disso, surge a pergunta: só a informação basta? Sabe-se que não. O que fará a diferença é a forma como a pessoa integra uma informação, transforma-a em aprendizagem e a coloca a serviço da comunidade. Nessa perspectiva, a freqüência à escola não garante o salto qualitativo que requer o movimento social. A Psicopedagogia tem por objeto de estudo a aprendizagem como um processo individual, em que a trajetória da construção do conhecimento é valorizada e entendida como parte do resultado final. A preocupação maior da Psicopedagogia é o ser que aprende e o seu objetivo geral é desenvolver e trabalhar esse ser de forma a potencializá-lo como uma pessoa autora, construtora da sua história, de conhecimentos, e adequadamente inserida em um contexto social.

O trabalho da Psicopedagogia é evitar ou debelar o fracasso escolar em uma visão do sujeito como um todo, objetivando facilitar o processo de aprendizagem. O ser sob a ótica da Psicopedagogia é cognitivo, afetivo e social. É comprometido com a construção de sua autonomia, que se estabelece na relação com o seu "em torno", à medida que se compromete com o seu social estabelecendo redes relacionais. "Para o pensador sistêmico, as relações são fundamentais" (CAPRA, 1996, p 47)

A dificuldade de aprendizagem nessa definição é entendida e trabalhada com um agente dificultador para a construção do aprendiz que é um ser biológico, pensante, que tem uma história, emoções, desejos e um compromisso político-social. "A Psicopedagogia tem como meta compreender a complexidade dos múltiplos fatores envolvidos nesse processo". (RUBINSTEIN, 1996, p 127)

Nem sempre a Psicopedagogia foi entendida da forma como aqui está caracterizada. A Psicopedagogia, inicialmente, começou tendo como pressuposto que as pessoas que não aprendiam tinham um distúrbio qualquer. (BOSSA,1994, p.42) A preocupação e os profissionais que atendiam essas pessoas eram os médicos, em primeira instância e, em segunda Psicólogos e Pedagogos que pudessem diagnosticar os déficits. Os fatores orgânicos eram responsabilizados pelas dificuldades de aprendizagem na chamada época "patologizante" A criança ficava rotulada e a escola e o sistema a que ela pertencia, se eximiam de suas responsabilidades: "Ela (a criança) tem problemas...” Posteriormente, com a ampliação da visão de que o sujeito não é apenas um ser racional, os psicopedagogos passaram a estudar e a avaliar o processo da aprendizagem. Porém, essa observação levou a uma prática pautada no refazimento do processo de aprendizagem e requeria reposição de conteúdos e repetições até que a criança aprendesse. A criança ficou subdividida em setores e não havia articulação entre o emocional, a cognição, o motor e o social.

Os vários profissionais envolvidos na questão aprendizagem foram percebendo que não bastava retirar o eixo da patologia para a aprendizagem, mas era necessário saber que sujeito era esse, de onde ele vinha e para onde ele queria e podia ir. A constatação que apenas uma área do conhecimento não conseguiria respostas absolutas e definitivas para a situação, deflagrou o que é hoje a Psicopedagogia.

Os profissionais interessados nas questões de aprendizagem entenderam que o caminho era a interdisciplinaridade para compreender a complexidade desse fenômeno. A partir de diferentes referenciais teóricos, tais como a Pedagogia, a Psicologia, a Fonoaudiologia, a Psicanálise, a Sociologia, a Neurologia, etc. foram se construindo e pesquisando outros referenciais, outros instrumentos, outras sínteses.

Esse conhecimento foi construído a partir do encontro desses profissionais, pautado em teorias, experimentos, pesquisas, práticas diferenciadas e, o mais provocante, de uma realidade que teimava em incomodar que era o fracasso escolar. .Neste sentido, a Psicopedagogia não é a justaposição da Psicologia e da Pedagogia e, nem tampouco, um Pedagogo ou um Psicólogo "mais especializado".

A Psicopedagogia, portanto, propõe a investigar e a entender a aprendizagem com base no diálogo entre as várias disciplinas. O Psicopedagogo é outro profissional, com outro referencial, a partir de outro conhecimento e com outro olhar.

Atualmente, a psicopedagogia, é entendida num contexto de interdisciplinaridade, sem, contudo, perder de vista que “os diferentes níveis de realidade são acessíveis ao conhecimento, humano graças à existência de diferentes níveis de percepção, que se acha em problemas de aprendizagem através de provas (testes) psicopedagógicos tais como: Provas Operatórias (Piaget), Provas Projetivas (desenhos), EOCA (Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem) e Anamnese.



2.3 Psicopedagogia Institucional



A Psicopedagogia vem atuando com muito sucesso nas diversas Instituições, sejam escolas, hospitais e empresas. Seu papel é analisar os fatores que favorecem, intervém ou prejudicam uma boa aprendizagem em uma instituição. Propõe e ajuda o desenvolvimento dos projetos favoráveis a mudanças.

O papel do psicopedagogo numa instituição consiste em diagnosticar através de um processo investigativo, as causas que podem estar impedindo o curso regular da aprendizagem institucional, a circulação do conhecimento, o papel das lideranças e dos liderados, bem como os motivos que podem levar ao insucesso organizacional. O Psicopedagogo também pode atuar como Assessor Psicopedagógico em instituições escolares, direcionando a potencialização da competência dos professores.

Para trabalhar em instituições, o psicopedagogo deve adquirir competências na área administrativa e de planejamento estratégico, conhecer teorias sobre liderança, comportamento grupal e análise de potencial e desempenho.



2.4 Psicopedagogia Clínica



Psicopedagogia possui como objetivo o estudo do processo de aprendizagem e suas dificuldades. Este estudo tem caráter preventivo e terapêutico, detectando as causas dos problemas de aprendizagem através de provas (testes) psicopedagógicos tais como, Provas Operatórias (Piaget), Provas Projetivas (desenhos), EOCA (Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem) e anamnese.

A Psicopedagogia Clínica diagnostica, orienta, e investiga os problemas emergentes nos processos de aprendizagem. Tem como finalidade esclarecer os obstáculos que interferem na efetivação e concretização de uma boa aprendizagem. Favorece o desenvolvimento de atitudes e processos de aprendizagem adequados. Realiza o diagnóstico psicopedagógico, com especial ênfase nas possibilidades e perturbações da aprendizagem; esclarecimento e orientação vocacional operativa em todos os níveis educativos.

Na clínica, o psicopedagogo fará uma entrevista inicial com os pais ou responsáveis para conversar sobre horários, quantidades de sessões. O histórico do sujeito, desde seu nascimento, será relatado ao final das sessões numa entrevista chamada anamnese, com os pais ou responsáveis.

Geralmente o período para diagnosticar o problema psicopedagógico dura de 7 à 10 sessões de 50 minutos cada. Em alguns casos, o profissional pode encaminhar o paciente para outros profissionais como psicólogos, fonoaudiólogos, neurologistas, otorrinos, entre outros para uma avaliação transdisciplinar.

A análise do sujeito através de correntes distintas do pensamento psicológico concebeu uma proposta de diagnóstico, de processo corretor e de prevenção, dando origem ao método clínico psicopedagógico.

De acordo com Visca, quando se fala de psicopedagogia clínica, se está fazendo referência a um método com o qual se tenta conduzir à aprendizagem e não a uma corrente teórica ou escola. “Em concordância com o método clínico podem-se utilizar diferentes enfoques teóricos. O que eu preconizo é o da epistemologia convergente”. (1987, p. 16)



3 O CURSO



A formação em Psicopedagogia está organizada na forma de pós-graduação. Ela exige do aprendiz uma articulação, uma abordagem e um avanço qualitativo inerentes a uma maturidade profissional e acadêmica. Portanto, é necessário muito cuidado na escolha do curso de pós-graduação em Psicopedagogia. Devemos analisar a oferta de disciplinas inerentes a aprendizagem, o número de horas ofertadas, se os professores são psicopedagogos especialistas, se tem estágio supervisionado por um psicopedagogo.

Os profissionais psicopedagogos, quando inquirido da necessidade ou relevância do curso de Psicopedagogia ser de especialização, testemunham que apenas a formação é insuficiente para entender e trabalhar, competentemente, com a aprendizagem e seus possíveis percalços.

A Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) é uma entidade de caráter científico cultural. Fundada em 1980, tem como objetivo principal congregar profissionais psicopedagogos e profissionais afins e promover estudos, pesquisas, cursos, encontros e compartilhamentos.

A questão da formação do psicopedagogo assume um papel de grande importância na medida em que é a partir dela que se inicia o percurso para a formação da identidade desse profissional. Alicia Fernández afirma o seguinte: "O pensamento é um só, não pensamos por um lado inteligentemente e, depois, como se girássemos o dial, pensamos simbolicamente. O pensamento é como uma trama na qual a inteligência seria o fio horizontal e o desejo vertical, Ao mesmo tempo, acontecem a significação simbólica e a capacidade de organização lógica" (1990, p. 67).

Na maioria das vezes em programas Lato Sensu regulamentados pela Resolução n° 12/83, de 06.10.83, que forma os especialistas e que os habilita legalmente também para o ensino superior – ainda que não necessariamente, em termos de conhecimentos, o aluno esteja realmente habilitado para tal. Além das diferenças resultantes da própria divergência acerca do que é a Psicopedagogia, ocorre também que, a depender do enfoque priorizado pelo curso, alguns conteúdos são valorizados em detrimento de outros. Outro aspecto a considerar é que o curso se destina a profissionais com diferentes graduações. Estes se identificam com um referencial teórico que irá nortear a sua prática a partir da formação anterior. Interferem também características de personalidade no perfil desse profissional. Conhecer a Psicopedagogia implica um maior conhecimento de várias outras áreas, de forma a construir novos conhecimentos a partir delas. Ao concluir o curso de especialização em Psicopedagogia, o aluno está iniciando a sua formação, o que deve ser um ponto de partida para uma eterna busca do melhor conhecimento.

Por tudo o que aqui foi descrito é que estamos lutando pela regulamentação da profissão de Psicopedagogo. Entendemos que, se o projeto de lei que regulamenta a nossa profissão for aprovado, poderemos cuidar da qualidade dos cursos oferecidos e estender o atendimento à comunidade como um todo, já que poderemos participar de concursos públicos, de convênios, etc. A aprovação do projeto de lei será uma oficialização do que já está socialmente reconhecido. Devemos, no entanto, escolher com muito cuidado a Instituição que desejamos fazer o curso de Psicopedagogia.



4 O PSICOPEDAGOGO



Com o intuito de auxiliar professores e todos aqueles envolvidos com a questão do aprender é que surgiu a Psicopedagogia, ciência nova que se destina a buscar as causas dos fracassos escolares e resgatar o prazer de aprender numa visão multidisciplinar, podendo orientar as instituições escolares e seus professores e atender a pais e alunos na perspectiva de transformar as relações com o aprendizado.

Nas relações entre escola, Estado e sociedade, o psicopedagogo pode vir a ser o profissional que articula instâncias reguladoras entre os diversos âmbitos da realidade educacional. Ser psicopedagogo é atuar em diferentes campos de ação, situando-se tanto na área da saúde quanto na educacional, compreendendo as variadas dimensões da aprendizagem humana que ocorrem em todos os espaços e tempos sociais. O psicopedagogo atua de forma preventiva e terapêutica e tem como papel principal ser um mediador de todo este processo.

O trabalho psicopedagógico, implica compreender a situação de aprendizagem do sujeito dentro do seu próprio contexto. Tal compreensão requer uma modalidade particular de atuação para a situação em estudo, o que significa que não há procedimentos predeterminados. Defino esta característica como uma configuração clínica da prática psicopedagógica. O psicopedagogo, procura observar o sentido particular que assumem as alterações da aprendizagem do sujeito ou do grupo. Busca o significado de dados que lhe permitirá dar sentido ao observado. Na medicina, o médico observa o paciente, vê o que se passa, escuta o seu discurso para fazer o diagnóstico e proceder ao tratamento.

A expressão "olho clínico", emprestada da Medicina, é freqüentemente utilizada na Psicopedagogia Clínica referindo-se à postura terapêutica do profissional. , Em seu trabalho, o Psicopedagogo deverá fazer com que a criança enfrente a escola de hoje e não a de amanhã. Esse enfrentamento, no entanto, não significaria impor à criança normas arbitrárias ou sufocar-lhe a individualidade. Busca-se sempre desenvolver e expandir a personalidade do indivíduo, favorecendo as suas iniciativas pessoais, suscitando os seus interesses, respeitando os seus gostos, propondo e não impondo.

A competência do psicopedagogo está, portanto, na difícil tarefa de por em articulação teoria e prática. Não existe psicopedagogo enquanto o “fazer “ não se inicia. Não existe Psicopedagogia sem a busca da verdade que esta inscrita no conhecimento de si e do outro e na criação de novos conhecimentos. É necessária uma integração também entre os saberes científicos, a fim de que a competência do psicopedagogo seja sentida: a atualização profissional é imperiosa, uma vez que trabalhando com tantas áreas, a descoberta e a produção do conhecimento é bastante acelerada.



4.1 Onde trabalham os Psicopedagogos?



O trabalho psicopedagógico não pode confundir-se com a prática psicanalítica e nem tampouco com qualquer prática que conceba uma única face do sujeito. Um psicopedagogo, cujo objeto de estudo é a problemática da aprendizagem, não pode deixar de observar o que sucede entre a inteligência e os desejos inconscientes.

Diz Piaget que "o estudo do sujeito ‘epistêmico’ se refere à coordenação geral das ações (reunir, ordenar, etc.) constitutivas da lógica, e não ao sujeito ‘individual’, que se refere às ações próprias e diferenciadas de cada indivíduo considerado à parte" (1970, p. 20).

É desse sujeito individual ocupa-se a psicopedagogia. O conceito de aprendizagem com o qual trabalha a Psicopedagogia remete a uma visão de homem como sujeito ativo num processo de interação com o meio físico e social. Nesse processo interferem o seu equipamento biológico, as suas condições afetivo-emocionais e as suas condições intelectuais que são geradas no meio familiar e sociocultural no qual nasce e vive o sujeito.

O produto de tal interação é a aprendizagem. Os psicopedagogos trabalham em clínicas, em atendimentos individuais, em instituições escolares, hospitais e empresas onde se promova aprendizagem. Tanto em clínicas quanto nas instituições, os psicopedagogos trabalham com diagnóstico e intervenção. Nessa modalidade de trabalho, deve o profissional compreender o que o sujeito aprende como aprende e porque além de perceber a dimensão da relação entre psicopedagogo e sujeito de forma a favorecer a aprendizagem.

No trabalho preventivo, a instituição, enquanto espaço físico e psíquico da aprendizagem é objeto de estudo da psicopedagogia, uma vez que são avaliados os processos didáticos metodológicos e a dinâmica institucional que interferem no processo de aprendizagem. O psicopedagogo deve desenvolver sua ação, mas sempre se retratando às teorias, englobando vários campos de conhecimentos.Ele ensina como aprender e para isso necessita aprender o aprender e a aprendizagem.

Os instrumentos utilizados pelos Psicopedagogos no seu ambiente de trabalho não costumam ser os padronizados e sim os jogos, as atividades de expressão artística, a linguagem escrita, as leituras e dramatizações, etc. Enfim, atividades que valorizem o que a criança sabe, que estimulem a expressão pessoal, o desejo de aprender e suas possibilidades de aprender.



5 LEIS, PROJETOS E O CÓDIGO DE ÉTICA DA PSICOPEDAGOGIA



O primeiro Código de Ética da Psicopedagogia foi formulado em 1992 e reformulado pelo Conselho Nacional e Nato de Psicopedagogia no biênio 95/96. Ele é composto por dez capítulos e vinte artigos e apesar de ainda não estar regulamentada a prática psicopedagógica, os psicopedagogos devem seguir certos princípios éticos que estão condensados no Código de Ética, devidamente aprovado pela Associação Brasileira de Psicopedagogia, no ano de 1996.

O Código de Ética regulamenta as seguintes situações:

os princípios da Psicopedagogia;

as responsabilidades dos psicopedagogos;

as relações com outras profissões;

o sigilo;

as publicações científicas;

a publicidade profissional;

os honorários;

as relações com a educação e saúde;

a observância e cumprimento do código de ética; e

as disposições gerais.

O código também faz referência sobre os deveres fundamentais dos psicopedagogos, como manter e desenvolver boas relações com os componentes das diferentes categorias profissionais, das publicações científicas, da publicidade profissional, dos honorários, das relações com a saúde e educação e da observância e cumprimento do código de ética (artigo 6º).

A regulamentação da profissão é uma forma de oficializar o campo de atuação que a sociedade já reconhece. A regulamentação possibilitaria ao psicopedagogo fazer convênios e também garantiria o exercício da profissão apenas por profissionais habilitados. Temos exemplo da OAB e de Conselhos Federais e Regionais que tem o poder de punição para os maus profissionais.

Vale então ressaltar alguns projetos de lei que existem e que subsidiam e regulamentam a atuação do psicopedagogo.

Projeto de Lei 3512/08 A Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público aprovou, no último dia 17, o Projeto de Lei 3512/08, da deputada Professora Raquel Teixeira (PSDB-GO), que regulamenta a atividade profissional do psicopedagogo. Pela proposta, a profissão poderá ser exercida pelo portador de diploma de graduação em Psicopedagogia, pelo diplomado em Psicologia ou Pedagogia e pelo licenciado que tiver concluído curso de especialização em Psicopedagogia. A especialização deverá ter duração mínima de 600 horas e carga horária de 80% na especialidade.

Projeto de lei nº 3124/97 do Deputado Barbosa Neto (dispõe sobre a regulamentação da profissão de psicopedagogo - em tramitação no Congresso Nacional).

Lei nº 10.891 de 20 de setembro de 2001 (autoriza o Poder Executivo a implantar assistência psicológica e psicopedagógica em todos os estabelecimentos de ensino básico público - criada a partir do projeto de lei nº 128/2000 do Dr. Claury Alves da Silva - PTB).

Projeto de Lei n° 128/2000 do Dr. Claury Alves da Silva - PTB (estabelece a implantação de assistência psicológica e psicopedagógica em todos os estabelecimentos públicos de ensino do Estado de São Paulo)

Resolução nº 1, de 3 de abril de 2001 (Estabelece normas para o funcionamento de cursos de pós-graduação entre eles o de psicopedagogia)

Legislação de apoio para atendimento de crianças com dificuldades de aprendizagem.

Projeto Lei n. 3124/97 do Deputado Barbosa Neto que regulamenta a profissão do Psicopedagogo e cria o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Psicopedagogia.

O psicopedagogo é o profissional que auxilia na identificação e resolução dos problemas no processo de aprender. O Psicopedagogo está capacitado a lidar com as dificuldades de aprendizagem, um dos fatores que leva a multirepetência e à evasão escolar, conduzindo à marginalização social.



6 ANÁLISE E DISCUSSÃO

A Psicopedagogia como disciplina que estuda as aprendizagens humanas, oferece um campo de intervenção, cujos limites são amplos. O próprio processo humano de aprendizagem é um fenômeno complexo, que envolve múltiplos fatores e desafia qualquer tentativa de explicação a partir de um discurso científico único. Consolidar pontes entre disciplinas é e será condição inerente à natureza da Psicopedagogia que irá colocá-la em um lugar de complexidade, estimulando o debate e a consolidação de enunciados epistemológicos para suas práticas e problemas.

Resta, adiante, o desafio da investigação, da reformulação de conceitos e práticas referentes ao aprendiz imerso em um mundo globalizado, com novas formas de acesso à informação e à aprendizagem. Ao mesmo tempo, faz-se obrigatória a inclusão de contribuições teóricas, as contribuições da Psicologia Cognitiva e a inclusão dos novos fenômenos sociais e culturais para que se possa avaliar a aprendizagem e os problemas que têm surgido na educação atual.



7 CONCLUSÃO



A Psicopedagogia é uma área interdisciplinar de conhecimento, atuação e pesquisa, que se insere no campo da Educação e da Psicologia e lida com o processo de aprendizagem humana. A relevância do curso se impõe na medida em que temos hoje uma grande demanda social, que tem acesso à escola e que nem sempre tem sucesso neste espaço institucional, devido à complexidade cada vez maior do universo de conhecimentos “exigidos” pela sociedade contemporânea.

Há que se pensar ainda na “competição” que a escola sofre com outros meios de informação, a discrepância existente entre conteúdo escolar e a vida e fundamentalmente as características individuais do aprendiz no que tange ao ritmo e peculiaridades de seu desenvolvimento cognitivo, emocional, lingüístico, psicomotor e social.

Nós educadores, devemos tolerar as diferenças, aprender a conviver com o novo e com a desordem, pois todo desenvolvimento é o produto de momentos confusos, incompreendidos, que precisam ser suportados e superados. É a partir do desequilíbrio que se constrói o crescimento.

Precisamos discutir a visão plural de uma determinada cultura, de um determinado contexto social, para que se possa trazer o sujeito singular e, com ele, construir sua individualidade, sem aliená-lo de sua cultura.

É preciso saber trabalhar com o diferente, tolerando a nossa própria ignorância, para buscar alternativas, abrindo possibilidades para situações ainda não exploradas. Trabalhar o diferente é poder valorizar as competências relacionais, ou seja, trabalhar a interação do sujeito com o meio, através de atividades culturais, a fim de que se constitua enquanto cidadão que tem domínio de si, sabedor de uma possibilidade de se sentir fazendo parte de um grupo, sendo diferenciado, constituindo-se com sua identidade própria.

É preciso trabalhar com a identidade grupal, com referenciais sócio-culturais que organizem e contribuam para a formação do sujeito para podermos construir o cidadão capaz de exercer plenamente sua cidadania.

Ao psicopedagogo cabe saber como se constitui o sujeito, como este se transforma em suas diversas etapas de vida, quais os recursos de conhecimento de que ele dispõe e a forma pela qual produz conhecimento e aprende.

Esse saber exige que o psicopedagogo recorra a teorias que lhe permitam aprender, bem como às leis que regem esse processo: as influências afetivas e as representações inconscientes que o acompanham, o que pode comprometê-lo e o que pode favorecê-lo. Assim sendo o psicopedagogo deve ser um profissional que tem conhecimentos multidisciplinares, pois em um processo de avaliação diagnóstica, é necessário estabelecer e interpretar dados em várias áreas. O conhecimento dessas áreas fará com que o profissional compreenda o quadro diagnóstico do aprendente e favorecerá a escolha da metodologia mais adequada, ou seja, o processo corretor, com vista a superação das inadequações do aprendente.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



BOSSA, Nadia. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre, Artes Médicas, 2000.


CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida. São Paulo: Cultrix, 1996


GONÇALVES, Júlia Eugênia. O psicopedagogo na sociedade atual. Disponível em:< www.psicopedagogia.com.br> Acessado em 2 de Abril de 2010.


ROCHA,Nina.Trajetória da Psicopedagogia no Brasil. 22/10/2009. Disponível em:.Acessado em 6 Abril de 2010.


RUBINSTEIN, Edith. A Especificidade do diagnóstico Psicopedagógico. In: Atuação Psicopedagógica e Aprendizagem Escolar. Petrópolis: Vozes, 1996


VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica. Epistemologia Convergente. Porto Alegre, Artes Médicas, 1987.


FERNANDEZ,Alicia.A inteligência aprisionada.Porto Alegre:Artes Médicas,1990



PIAGET, J.A construção do real na criança.Rio de Janeiro:Zahar.1970


PORTO,Olívia.Bases da Psicopedagogia:diagnóstico e intervenção nos problemas de aprendizagem.Rio de Janeiro:Wak Ed.2007


BARBOSA, Laura Monte Serrat. A História da Psicopedagogia contou também com Visca, in Psicopedagogia e Aprendizagem. Coletânea de reflexões. Curitiba, 2002




1 Acadêmica do Curso de Especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional da Faculdade Atlântico-Aracaju/SE

2 Professora Orientadora e Docente da Faculdade Atlântico

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